Edição 91 ● Agosto de 2020
Um arquivo no centro da política brasileira
350 terabytes. De acordo com o procurador-geral da República, Augusto Aras, este é o volume de dados e documentos armazenados pelo arquivo da Operação Lava Jato, autointitulado o maior esforço no combate à corrupção no Brasil. De acordo com Aras, são 38 mil os brasileiros cujos registros estão arquivados pela operação. Parte importante dos documentos estaria sob sigilo e inacessível, mesmo para integrantes do Judiciário.
A título de comparação, de acordo com o Ministério Público, seu sistema único conta com volume total de 40 terabytes em dados e informações. o arquivo da Lava Jato seria, portanto, quase nove vezes maior do que o de todo o MP.
Cercada por polêmicas e denúncias há pelo menos três anos, a Operação Lava Jato é agora indagada justamente por esses arquivos. Há três semanas o Supremo Tribunal Federal decidiu que a operação deveria compartilhar seus dados com a PGR. O Ministério Público obedeceu à demanda, mas protestou. De acordo com os promotores, a Lava Jato está sob ataque.
Como resposta, na semana passada, Aras atacou o gigantismo e a opacidade promovida pela Lava Jato ao longo dos últimos anos. De acordo com o procurador, a operação mantém 50 mil documentos sob sigilo, uma opacidade descrita por Aras como "caixa de segredos".
Na imprensa especializada, o tema ressoou de forma heterogênea. O Estadão destacou: "Num Estado verdadeiramente democrático, nenhum ente público pode ganhar vida própria, fora do controle institucional. Mesmo que as intenções sejam boas – e ninguém questiona os bons serviços da Lava Jato nos casos do mensalão e do petrolão –, não há justificativa para permitir que a força-tarefa ostente status de intocável. As declarações do procurador-geral Augusto Aras devem, portanto, servir para que haja alguma providência institucional para obrigar a Lava Jato a se reintegrar à ordem constitucional vigente, começando por explicar o que faz com a montanha de dados que amealhou sabe-se lá com que propósito".
A força-tarefa da Lava Jato no Paraná, principal núcleo da operação, negou ter dados de 38 mil brasileiros e disse que seus documentos estão disponíveis nos sistemas eletrônicos da Justiça Federal. A demanda de Aras, no entanto, abriu uma profunda crise entre os integrantes da Lava Jato e a PGR. Um imbróglio que, aparentemente, está longe de seu fim.
Brasil
O Arquivo Nacional deu início ontem, 3, à consulta pública da proposta do Decreto da Política de Gestão de Documentos e Arquivos da Administração Pública Federal. Até o fechamento desta edição, o link de acesso à minuta do Decreto ainda não havia sido disponibilizado.
Por falar em AN, a instituição alcançou os 90 mil seguidores do Facebook.
A novíssima Revista Brasileira de Preservação Digital abriu uma nova chamada de artigos. O prazo de envio vai até 31 de agosto.
Estão abertas as inscrições para apresentação de trabalhos na V Jornada Científica do CDOC-ARREMOS. Os resumos podem ser enviados até o dia 30 de setembro.
Duas universidades privadas foram alvos de ataques cibernéticos na última semana. Dados de 1 milhão de alunos foram vazados.
O Arquivo Público do Estado do Pará inaugurou uma exposição virtual para comemorar seus 119 anos. A mostra pode ser visitada no Instagram no Arquivo.
O Teatro Amazonas está resgatando sua história através da organização de seu acervo.
Saiu uma nova versão do aplicativo El-PCD, para criação de Planos de Classificação e Tabelas de Temporalidade.
E uma dica imperdível: estão abertas as inscrições para o minicurso Educação para o patrimônio: pensando em acervos documentais, que ocorre entre os dias 18 e 20 de agosto. O curso é uma promoção do Arquivo Central e do Centro de Conservação da Memória da Universidade Federal de Juiz de Fora. E o melhor: é gratuito.
Mundo
Saiu a mais nova edição da revista peruana Alerta Archivística. Na capa, os desafios do ensino de Arquivologia à distância.
Durante todas as quartas-feiras de agosto, o Archivo y Centro de Documentación da Fech, no Chile, promove o 5º Seminário Interdisciplinario sobre Archivos en Chile. Neste ano, a temática dos encontros (todos virtuais) é "Archivos y archiverxs en pandemia: hacia un Estado garante y una ciudadanía empoderada".
Por falar em Chile, amanhã, às 18h, acontece a segunda reunião do Seminário de História de la Archivística Latinoamericana. Nesta seção, Maurício Vázquez Bevilacqua e Gustavo Villanueva Bazán apresentam a história da Arquivologia uruguaia e mexicana, respectivamente.
O Archivo General de Zacatecas, no México, está divulgando as ferramentas de seu sistema institucional de arquivos. Conheça!
Entre os dias 29 de agosto e 12 de setembro, o Archivo General do Peru promove o curso "Digitalización de documentos", totalmente virtual. O custo de inscrição é de 150 soles.
Para ler com calma
Jogos de videogame inspirados nos arquivos europeus (em espanhol, via PARES).
Dados estruturados: um guia completo para principiantes (em espanhol, via HubSpot).
"Os arquivistas somos 'facilitadores' do trabalho dos demais": uma entrevista com Victor M. Bello Jiménez, arquivista e escritor (em espanhol, via Archivoz).
"Documentos inéditos de Jango revelam pedidos de conspiradores a presidente deposto pelo golpe militar" (via Folha de S. Paulo).
Para ver com calma
Mais precisamente, para ouvir: Archipodcast, o novo podcast de Arquivologia, produzido pela revista Archivoz.
A palestra de Marta Ligia Pomim Valentim no ciclo "Arquivologia em múltiplas perspectivas", promovido pelo curso de Arquivologia da FURG.