Ano III ● Edição 140 ● Agosto de 2021
Em pelo menos seis edições noticiamos o processo de profundo descaso que tomou conta da Cinemateca Brasileira – instituição que já foi reconhecida como uma das mais importantes custodiadoras de acervos fílmicos do mundo –, atacada, perseguida e abandonada desde 2018, quando o Governo Federal rompeu o acordo que tinha com a organização social que geria a entidade.
Descaso que, ao fim, fez com que fôssemos obrigados a empregar o velho clichê da tragédia anunciada. Na última quinta, 29, um incêndio de grandes proporções destruiu parte importante do acervo da instituição. O fogo atingiu um depósito da Cinemateca na Vila Leopoldina, em São Paulo. De acordo com relatos de funcionários da instituição, podem ter se perdido – para sempre – os arquivos da extinta Embrafilme, acervos pessoais de cineastas, equipamentos que haviam sido reunidos para a criação de um museu do cinema e, possivelmente, os arquivos do Canal 100 e da TV Tupi.
O incêndio gerou indignação e tristeza. Em nota conjunta, o Fórum Nacional de Pesquisa e Ensino em Arquivologia (FEPARQ), o Fórum Nacional das Associações de Arquivologia do Brasil (FNArq), doze cursos de graduação em Arquivologia e outras sete entidades lamentaram o ocorrido e pediram que os fatos sejam apurados e que sejam adotadas medidas "para garantir a preservação adequada do patrimônio documental do país". Já a AMIA (Association of Moving Image Archivists) exortou o governo brasileiro a assumir a responsabilidade para garantir a segurança do patrimônio cultural insubstituível guardado pela Cinemateca.
O secretário da Cultura, Mário Frias, afirmou que o incêndio é culpa de governos anteriores, claro.
Um dia depois do incêndio, a secretaria da Cultura lançou o edital para selecionar uma entidade privada que possa gerir a instituição. Edital que, a propósito, estava parado há mais de um ano.
Nesta semana, Cátia Selistre e Juliana Horta conversam com André Malverdes sobre o filme O fotógrafo de Mauthausen e sua relação com a Arquivologia. Imperdível!
Brasil
E não são só os acervos físicos que desaparecem no Brasil. Toda a plataforma do CNPq, que congrega dados e documentos sobre a pesquisa científica no Brasil, ficou mais de uma semana fora do ar. A promessa do Ministério da Ciência e Tecnologia é de que os serviços seriam reestabelecidos ontem, dia 1º, mas até o fechamento desta edição o "apagão" seguia.
O Governo Federal impôs sigilo de cem anos sobre os documentos que comprovam o acesso dos filhos do presidente da República ao Palácio do Planalto... Sob a alegação de direito à intimidade, privacidade, honra e imagem de seus familiares.
Disputado entre seus herdeiros, o acervo do ex-governador Leonel Brizola está abandonado, em um galpão, no Rio. Ao todo, são 65 caixas com documentos acumulados por Brizola ao longo de sua agitada vida.
A editora Fino Traço, de Belo Horizonte, está lançando um selo sob a denominação "Arquivo & Arquivologia". A ideia é impulsionar publicações na área. Iniciativa mais que bem vinda!
A revista Ágora está aceitando artigos para publicação em fluxo contínuo.
Por falar em submissões, estão abertas as inscrições de trabalhos para o VI Simpósio Arquivos & Educação. A temática deste ano é "Arquivos, Educação e Movimentos Sociais: acervos, memórias e vozes plurais". Interessados podem submeter seus trabalhos até o próximo dia 01 de setembro de 2021
Mundo
Notícia não tão nova, mas bonita: um arquivo de Nina Simone, a sacerdotisa do jazz, foi inaugurado em Tryon, na Carolina do Norte.
Aliás, por falar em música, a Hargrett Library abriu para consulta um acervo que guarda vasto material da banda R.E.M.
Documentos do arquivo secreto do ditador Benito Mussolini foram devolvidos ao Arquivo Central do Estado, no último dia 28. Eles estavam com os familiares de um ex-funcionário da burocracia fascista.
Emma de Ramón, diretora do Archivo Nacional do Chile, propôs a criação de um arquivo da Convención Constitucional, que está redigindo uma nova carta magna para o país.
Agenda internacional: no Chile, ocorre entre os dias 4, 11 e 18 de agosto o Seminário Archivos y géneros: una década de movimientos y encuentros; no Equador, a AsF apresenta no próximo sábado a live Archivos Médicos: fuentes para la investigación de la Salud Pública en el Ecuador. E todas as informações sobre o IV Congreso Internacional de Archivos Digitales: cámbio climático y preservación digital sonora y audiovisual, que acontece em novembro.
Para ler com calma
A administração portenha se despede do papel e digitaliza documentos públicos acumulados durante mais de um século (em espanhol, via Clarín).
De profissão, arquivista (em espanhol, via El Peruano).
Para ver com calma
O IV Encontro de Vivência Profissional – Arquivologia e Biblioteconomia (via PET Biblio).
E a roda de conversa Tecnologias nos currículos dos Cursos de Arquivologia (via Daniel Flores).