Ano IV ● Edição 189 ● Julho de 2022
CONARQ promove pesquisa sobre a situação dos arquivos no Brasil, mas iniciativa pode esbarrar em velhos obstáculos
Os grupos de trabalho "Diagnóstico" e "Institucionalização", do Conselho Nacional de Arquivos, lançaram no último dia 22 um questionário intitulado "Diagnóstico da situação dos arquivos". A ideia é, a partir das respostas recebidas, traçar "uma perspectiva panorâmica preliminar do atual contexto custodial [dos arquivos] nos municípios, nos estados e no Distrito Federal".
O levantamento, ressalta o CONARQ, é "colaborativo" – ou seja: dependerá da resposta das diferentes instituições espalhadas pelo país. O formulário eletrônico do diagnóstico, disponível no site do Conselho, coleta informações sobre os respondentes, sobre a instituição arquivística investigada, sobre aspectos relacionados à governança (marcos legais, vinculação administrativa, dotação orçamentária...), sobre a caracterização do acervo, sobre gestão de documentos, sobre acesso e difusão, instalações, recursos humanos e recursos tecnológicos. Ao todo, são mais de 80 perguntas.
De acordo com o Conselho Nacional de Arquivos, "as informações resultantes desse levantamento colaborativo auxiliarão no cumprimento da missão institucional do Conarq de definir a política nacional de arquivos". A iniciativa, porém, deve enfrentar obstáculos já conhecidos e observados em levantamentos anteriores: o caráter "colaborativo" da pesquisa tende a gerar um esvaziamento da investigação; também não fica claro a quem o formulário se dirige (quem serão os respondentes); e, haja vista propostas anteriores, sabe-se que há grande dificuldade de compreensão geral sobre os termos da área (o próprio entendimento sobre o que é uma instituição arquivística de acordo com a lei é confuso para muitos profissionais).
O formulário ficará aberto para respostas durante um mês – até 21 de agosto. Um prazo exíguo para um país que até hoje não tem clareza sobre aspectos elementares da gestão e governança arquivísticas. A torcida, claro, é de que o maior número possível de respostas sejam coletadas, mas o diagnóstico chegará nos pequenos e médios municípios brasileiros? Os arquivos públicos estaduais auxiliarão na difusão da pesquisa em suas unidades federativas? E mais: não seria o caso de que associações e cursos de Arquivologia, entre outros atores, se unam para prestar apoio à coleta de dados?
Um diagnóstico geral dos arquivos brasileiros é, hoje, condição fundamental para a condução de uma política pública arquivística para o país, mas o caminho "colaborativo" guarda armadilhas metodológicas já conhecidas pela Arquivologia. O uso de dados públicos, hoje disponíveis em abundância, talvez pudesse ser um (outro) caminho para conhecermos mais e melhor a realidade dos arquivos brasileiros, mas, mesmo assim, a iniciativa do CONARQ é válida. Oxalá, apenas, que desta vez os resultados sejam efetivos.
Brasil
Já são quatro os cursos de formação oferecidos pelo Arquivo Nacional através da ENAP. "Introdução às práticas arquivísticas", "Procedimentos de protocolo", "Arquivos permanentes: recolhimento, processamento técnico, preservação e acesso" e "Noções básicas de gerenciamento em serviços arquivísticos" estão abertos na plataforma.
Aos poucos, os concursos para arquivistas vão sendo retomados em todo o país. Estão abertos editais para a FURG e para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, por exemplo.
O que também está na praça são os editais para mestrado e doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFRJ/IBICT.
Concurso e qualificação lembra também publicação. A revista Archeion, mantida pelo curso de Arquivologia da UFPB está com número novo e chamada para artigos na área.
Agenda: vem aí o I Encontro da Rede Brasileira de Repositórios Digitais. O evento ocorrerá entre os dias 09 e 11 de agosto, com transmissão online.
Mundo
O Canadá abrirá uma das maiores instalações de arquivos do planeta. O projeto, que custou mais de 320 milhões de dólares, está sendo construído em Otawa e abrigará a Biblioteca Pública do Estado e parte dos arquivos nacionais do país.
O governo argentino entregou um conjunto de documentos digitalizados da Dirección Nacional de Migrantes ao Museu do Holocausto de Jerusalém. Os documentos são, em geral, de judeus europeus que vieram para a Argentina fugindo do nazismo.
A Associação Latino-Americana de Arquivos (ALA) lançou a convocatória para os Prêmios ALA 2022. A iniciativa vai premiar trabalhos de investigação sobre arquivos, arquivística e Arquivologia produzidos por profissionais do continente.
O Archivo General de la Nación do México vai promover uma ação de difusão das mais interessantes amanhã. Trata-se de um diálogo dramatizado entre dois itens documentais custodiados pela instituição, as constituições de 1857 e 1917.
E, na Venezuela, o Parlamento do país aprovou uma atualização da lei de arquivos nacionais.
Para ler com calma
Um bunker semienterrado esconde o maior arquivo audiovisual do mundo (em espanhol, via TendenciasHoy).
Uruguay: Aurelio González, o repórter gráfico que escondeu milhares de negativos da ditadura (em espanhol, via Página12).
Arquivo Público de Uberaba disponibiliza aplicativo com entrevistas de personalidades históricas da cidade (via Rádio JM).
Para ver com calma
Ou melhor: para ouvir. O podcast SonAr, do Archivo General de la Nación da Argentina (via AGN).
E também para ouvir: o podcast Mujeres, memoria y archivos, com a participação de Angelly Arancibia Noriel, responsável pelo belo projeto Archivo Nómada (via Red Archiveros Córdoba).
Arquivo Público. Com a palavra: Nádia Kojio (via TV Câmara São José dos Campos).