Edição 24 ● Abril d 2019
EUA revelam mais de 40 mil documentos desclassificados sobre a ditadura argentina
Foi a maior desclassificação da história do Arquivo Nacional dos Estados Unidos. No último dia 12, o ministro da Justiça da Argentina, Germán Garavano, recebeu de um representante do National Archives, em Washington, uma caixa contendo seis discos com representantes digitais de cerca de 40 mil documentos sobre a ditadura militar argentina (1976-1983). Os documentos compõem um conjunto de cerca de 43 mil páginas que detalham como órgãos do governo norte-americano acompanhavam o que se passava na América do Sul.
Dentre os casos que podem ser esclarecidos pelo novo lote de arquivos desclassificados está o da chamada "Noche de las corbatas", a desaparição de onze pessoas (seis advogados) em Mar del Plata, em julho de 1977. Os documentos serão disponibilizados pelo Arquivo Nacional da Memória, na Argentina.
No Jornal da USP desta semana, Maria Luiza Tucci Carneiro reflete sobre o passado indigesto que os arquivos revelados pelos EUA ajuda a remontar.
Brasil
O movimento "Queima de Arquivo Não!" entregou uma carta dirigida à diretora do Arquivo Nacional, Neide de Sordi, na qual pede que o Projeto de Lei nº 7.920/2017 seja definitivamente arquivado. A proposta prevê a eliminação de documentos após digitalização.
No último dia 14, o Arquivo Público do Estado do Pará completou 118 anos. O Portal da Amazônia fez uma reportagem especial para celebrar o aniversário de uma das mais antigas instituições arquivísticas brasileiras.
Enquanto arquivistas lutam para se estabelecer profissionalmente, o ramo das autointituladas empresas de gestão documental não para de crescer. Em fevereiro, a multinacional Acess comprou a brasileira DOC PAR. Atualmente, a Acess mantém 1,7 milhão de pés cúbicos de caixas de documentos em seus galpões. Aproximadamente dez milhões de digitalizações por mês ocorrem na empresa, que está presente em quatro estados.
Em vídeo, a TV UFMG mostra como foi o processo de eliminação massiva de documentos com prazo de guarda expirado, ocorrido na semana passada.
E o portal TechTudo explica como vai funcionar o Documento Nacional de Identificação (DNI) nos smartphones.
Mundo
Um novo conjunto de documentos desapareceu do Archivo General de la Nación, do Peru. Os documentos, escrituras públicas da década de 1970, provam a compra de uma propriedade no Centro de Lima. Este é o segundo caso de desaparição de documentos no AGN nos últimos meses. A crise do Archivo já levou à demissão de seu antigo diretor.
O cômico Cantinflas, a pintora Frida Kahlo e até o presidente estadunidense John Kennedy foram espionados pelo serviço secreto mexicano. Os documentos do Cisen não param de revelar novidades sobre a arapongagem no México.
Também no México, a história de uma suposta boneca diabólica dos tempos da inquisição, guardada ainda hoje no acervo do AGN.
No último dia 9, a Câmara de Representante do Uruguai aprovou o projeto de lei que reconhece a profissão de arquivista no país (por lá chamada de "archivólogo"). O projeto segue para o Senado.
Na Inglaterra, o site Letters of Note, organizado pelo britânico Shaun Usher, reúne a correspondência histórica de artistas e políticos. O Nexo conta mais detalhes do projeto.
Para ler com calma
Sempre atento à bibliografia mais contemporânea da área, nesta semana o prof. José Maria Jardim recomenda Decolonising Archives (L'internationale, 2016), um livro que aborda temas ainda pouco explorados pelos arquivistas. Disponível para download de forma gratuita.
Pablo Soledade, para ArchiVoz: "O que é mais importante num projeto de digitalização, quantidade ou qualidade de documentos digitalizados? Essa resposta parece simples na primeira leitura. Esse questionamento já foi feito em dezenas de turmas e aulas proferidas por este autor e de pronto, a grande maioria das respostas, de forma aproximada, 80% das pessoas, apontam para a qualidade como elemento mais importante. Mas, será? Imaginemos que em um projeto onde deve-se digitalizar 100.000 documentos do setor financeiro no prazo de 20 dias, foram feitos 90.000 documentos, mas destes, numa inspeção de controle de qualidade, foi verificada que 60.000 não atendiam aos critérios mínimos de qualidade definidos no projeto, ou sejam, precisariam ser redigitalizados. Os mesmos 100.000 documentos foram digitalizados por outra equipe, e nesses 20 dias, digitalizaram 5.000 documentos com a mais perfeita qualidade, atendendo a todos os padrões, mas faltaram 95.000 para cumprimento da meta estabelecida. Desta forma, podemos refletir: quem atingiu a melhor produtividade?"