Edição 18 ● Março de 2019
Excepcionalmente nesta semana de Carnaval, o Giro da Arquivo circula na segunda-feira, em versão reduzida, dedicada exclusivamente à nomeação da nova diretora-geral do Arquivo Nacional, principal instituição arquivística brasileira. Voltamos na próxima semana com a edição regular de todas as terças.
Boa folia!
Arquivo Nacional sob nova direção
O Diário Oficial da última quarta, 27, publicou a nomeação de Neide Alves Dias de Sordi para a Direção-Geral do Arquivo Nacional. Ela substitui Carolina Chaves de Azevedo, que havia sido nomeada por Michel Temer, por indicação da ex-deputada Cristiane Brasil. Neide de Sordi é bibliotecária e mestre em Ciências da Informação pela Universidade de Brasília (UnB). É também proprietária da empresa InnovaGestão e membro da Open Knowledge Brasil, onde participou do assessoramento ao Grupo Executivo do Comitê Inteministerial Governo Aberto, entre 2015 e 2017.
De acordo com o Currículo Lattes publicado pela nova diretora, sua atuação profissional teve início em 1974, como estagiária em Biblioteconomia, na EMBRATER. Dentre mais de dez outros vínculos, Neide de Sordi atuou por 21 anos como servidora analista judiciária do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Durante esse período, entre 2009 e 2010, foi integrante suplente do Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ), representando o Poder Judiciário. A partir de 2011, de Sordi desempenhou diferentes funções junto a fundações e associações vinculadas ao desenvolvimento de pesquisas sobre telecomunicações, gestão do conhecimento e direito.
Seus vínculos mais recentes, com o instituto Open Knowledge Brasil e com sua própria empresa (InnovaGestão) aproximaram Neide Alves Dias de Sordi do Poder Executivo. Como assessora do Open Knowledge, ela atuou como uma das participantes da elaboração e implementação do Plano Nacional de Ação de Governo Aberto. Já como proprietária da InnovaGestão, prestou consultoria para o Superior Tribunal Militar, para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e na implantação do Sistema Eletrônico de Informações (SEI).
No âmbito da produção acadêmica, Neide de Sordi publicou o livro Manual de Indexação da Jurisprudência a Justiça Federal (CNJ, 1996) e artigos sobre governo aberto, gestão do conhecimento e gestão de documentos arquivísticos. Ao todo, de Sordi já participou e/ou organizou mais de 90 eventos.
A InnovaGestão, empresa administrada por Neide de Sordi, tem atuado junto a governos estaduais e à União, através de contratos de prestação de serviços de tecnologia e gestão do conhecimento. De acordo com o Portal da Transparência, a empresa já participou de 23 licitações junto ao Poder Executivo Federal. Os processos incluem ligações com a Presidência da República, o Comando da Aeronáutica e o Ministério da Fazenda, entre outros órgãos. Ainda de acordo com o Portal da Transparência, a empresa de Neide de Sordi já forneceu serviços ao Governo Federal no valor de R$ 52.700. Nos registros, de Sordi figura como "sócia-administradora" da empresa.
Em entrevista ao periódico Cadernos de Informação Jurídica, em 2014, Neide de Sordi manifestou seu pensamento sobre o papel do profissional da informação no âmbito jurídico: "Diversifique a sua atuação. Seu objeto de trabalho deve ser a informação jurídica em todas as suas manifestações, em todos os seus registros, incluindo a geração, a gestão e a disseminação da informação. Não atenda parcialmente ao seu usuário. Ele precisa que você selecione o que melhor responda à sua demanda, quer seja um artigo, um ato normativo ou um acordão. Se você lhe fornecer informação segmentada (apenas a doutrina e a legislação) ele não voltará. Se você lhe fornecer uma grande listagem de referências bibliográficas ele irá preferir pesquisar sozinho, que será mais rápido e mais eficiente. Se antecipe às demandas institucionais. Ofereça ajuda ao escritório de gestão de projetos para fazer a base de dados das lições aprendidas, veja se pode contribuir com a área de gestão de pessoas na elaboração da bibliografia básica de cursos específicos, procure a área de planejamento estratégico e ofereça seus serviços, mas peça ajuda para elaborar o planejamento estratégico da sua unidade. Faça parcerias institucionais porque sempre haverá espaço
para quem é útil".
Em 2012, Neide de Sordi participou do programa Cenas do Brasil (TV NBR), sobre a Lei de Acesso à Informação. Sua entrevista, em vídeo, pode ser vista neste link.
A revista Biblioo, ligada à Biblioteconomia, descreveu a nomeação de Neide de Sordi como "acertada, em função não só da sua formação acadêmica, mas também da sua larga experiência no mercado de tecnologia". A publicação frisa, no entanto: "Só que além de enfrentar um clima político tenso, a nova diretora deve encarar contingências orçamentárias. Os servidores da instituição também reivindicam um plano de carreira, a realização de eleições para o cargo de diretor e de concurso público, bem como a volta da entidade para a Casa Civil".
Nas redes sociais, bibliotecários e arquivistas comemoraram a indicação de Neide de Sordi para a direção-geral do Arquivo Nacional, mas também houve quem contestasse o fato de que, mais uma vez, a direção não estará a cargo de alguém vinculado diretamente à Arquivologia.
O Fórum Nacional das Associações de Arquivologia do Brasil (FNArq), o Grupo de Ensino e Pesquisa em Arquivologia (Reparq) e a Associação dos Servidores do Arquivo Nacional (ASSAN), ainda não se manifestaram sobre a nomeação da nova diretora.