Ano III ● Edição 122 ● Março de 2021
Nesta semana, enquanto lida com os mais de 300 mil mortos pela pandemia, o Brasil relembra os 57 anos do início de sua última ditadura. Em 1º de abril de 1964, forças militares e lideranças civis (incluindo os magistrados do Supremo Tribunal Federal) derrubaram João Goulart – então presidente constitucional – e instalaram uma ditadura que se transmutou para perdurar mais de duas décadas. O regime foi marcado por prisões massivas, pela disseminação da tortura, pelo desaparecimento forçado de cidadãos, por censura e corrupção. Um passivo pelo qual o Brasil paga até hoje.
Em meio à maior crise sanitária de sua história, o Governo Federal inacreditavelmente buscou (e ganhou) na Justiça o direito de comemorar o golpe perpetrado em 1964. No ano passado, através de notas e até de um vídeo, o governo já havia celebrado a data.
Países que viveram períodos ou regimes de exceção marcados por terrorismo de Estado têm buscado curar as feridas deixadas por estas fases invariavelmente traumáticas. Os alemães ainda hoje investem pesado em mecanismos capazes de garantir memória e justiça às vítimas do nazismo. Espanhóis, chilenos e argentinos, entre muitos outros, também têm buscado formas de reparar as muitas vítimas do terror de Estado. Mesmo o Brasil, ainda que tardiamente, fez algum esforço para, pelo menos, constituir uma narrativa mais justa e verdadeira sobre aqueles tempos sombrios.
Os esforços por memória, verdade e justiça passam, sempre, pelos arquivos. São os documentos arquivísticos produzidos nos contextos ditatoriais que nos permitem recuperar a verdade dos fatos. E é por isso que a abertura dos arquivos daquele período – ainda tímida no Brasil, apesar dos muitos avanços – não deve sair do radar dos arquivistas. É preciso investir esforços para que a disputa de narrativas atualmente em jogo não obscureça a necessidade de abrir, difundir e preservar os registros daquele período.
Só assim, quem sabe, possamos superá-lo, evitando que se repita.
O ECCOA – Arquivologia fora da caixa está com duas edições imperdíveis: além do segundo episódio da série Habitus Arquivístico, com Ivina Flores, o podcast também ouviu dois dos chefes de divisões do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul, sobre a história da instituição. As edições contam, claro, com o Giro em áudio.
Brasil
O Centro de Estudos e Memória da Juventude promove aos sábados, entre os dias 10 de abril e 22 de maio, o curso Introdução às questões arquivísticas. A formação ficará a cabo do professor André Oliva Teixeira Mendes.
Na quinta, 01, às 18h30, a Associação dos Arquivistas da Bahia promove sua Assembleia Geral Eleitoral. Os sócios estão convocados.
Em mais um (mau) exemplo de transparência pública, na semana passada o Ministério da Saúde tentou mudar o sistema de registros de vítimas da COVID-19. A mudança foi suspensa em virtude da ampla repercussão negativa.
O Governo Federal ainda não assinou o convênio com a entidade que irá gerir a Cinemateca Brasileira em São Paulo. Enquanto isso, a instituição segue fechada.
Tramita com urgência – e sob protestos – um projeto de lei para extinguir a Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, em São Paulo. A instituição é reconhecida por sua ação na preservação do patrimônio histórico da cidade.
O Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul lançou sua visita mediada virtual. Os agendamentos já estão abertos.
E a agenda de eventos de 2021 começa a ganhar força: estão abertas as inscrições para o III Congresso Internacional e Interdisciplinar em Patrimônio Cultural e para o XXI ENANCIB.
Mundo
A UNAM e a Universidad Andina do Equador estão promovendo o IV Congreso Internacional de Archivos Digitales. O evento está com inscrições abertas para apresentações até o próximo dia 28 de maio.
Na próxima terça, 6, a ALA promove um "conversatório" em comemoração ao seu 48º aniversário.
E, no dia 9, a instituição lança também as memórias do seminário "El lugar de los archivos: acceso a la información, transparencia y memória", que aconteceu em 2019.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood vai inaugurar seu museu em setembro. A instituição preservará mais de 230 mil filmes e 85 mil roteiros originais.
Para ler com calma
Leopoldina assinou o decreto da independência do Brasil em 2 de setembro de 1822? (via Projeto Detecta).
Inteligência artificial coloriza imagens do acervo do Arquivo Nacional no Twitter (via Arquivo Nacional).
O fim de uma era para os arquivos da Stasi (via DW).
E os resultados do projeto Estudos sobre o SINAR, desenvolvido pelo professor Renato Venâncio e seus discentes na UFMG.
Para ver com calma
Para ouvir, na verdade: o podcast Um arquivo de... (via Centro de Memória Unicamp).
A série "Arquivos em Tempos de Pandemia", do Arquivo Público do Estado de São Paulo.
E a aula inaugural do curso de Arquivologia da UNIRIO.