Edição 73 ● Abril de 2020
Custodiador de um dos principais acervos sobre o tema, Arquivo Nacional ignora aniversário do golpe que deu início à ditadura
Pelo segundo ano consecutivo, o Arquivo Nacional ignorou uma das efemérides mais significativas da história recente do Brasil. Como já ocorrera em 2019, na semana que passou, o AN não fez qualquer menção ao 56º aniversário do golpe civil-militar de 1964, que inaugurou um período de 21 anos de ditadura no país.
Nos últimos anos, a instituição tem redobrado esforços para se aproximar do público, sobretudo através do uso de redes sociais. Esse movimento, comum entre instituições congêneres mundo afora, tem como uma de suas marcas o uso de datas e fatos marcantes, capazes de potencializar a identificação entre os usuários e os arquivos. Seguindo essa tendência, no passado recente, o Arquivo Nacional se transformou em uma das instituições mais atuantes a respeito do resgate de temáticas e documentos ligados à ditadura.
Desde 2019, entretanto,um lento e silencioso abandono a respeito do assunto marca a postura do AN. Nos dois últimos anos, escassearam eventos, publicações e, principalmente, ações de difusão voltadas a incentivar a consulta dos usuários aos fundos documentais relacionados ao período. Cabe lembrar que o Arquivo Nacional, principal instituição arquivística brasileira, é custodiador de alguns dos fundos mais importantes para compreender os impactos da política de terrorismo de Estado implantada pelo regime ditatorial. No Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN) é possível acessar documentos que revelam detalhes da repressão em diversos níveis – do combate às guerrilhas de resistência à censura das artes. Parte importante destes acervos encontra-se disponível, inclusive, graças à ação do Projeto Memórias Reveladas, do qual o próprio Arquivo é um dos responsáveis – a propósito, o sítio eletrônico deste projeto não recebe atualizações desde maio de 2019.
Em 2020, entre os dias 31 de março e 1º de abril, dias marcados pelo aniversário do golpe, o perfil do Arquivo Nacional no Twitter realizou 27 postagens, nenhuma delas relacionada à ditadura. Temas como sesmarias no período colonial e a disponibilidade do livro Fiscais e Meirinhos, no entanto, receberam destaque.
Obviamente, nenhuma instituição é obrigada a fazer uso de quaisquer efemérides para potencializar seu acervo. Não deixa de ser curioso, entretanto, que o AN tenha abandonado o aniversário do Golpe de 1964 como fato potencializador de seus fundos documentais justamente quando as instituições brasileiras parecem voltadas a negar a existência e as crueldades de um período que ainda gera dor e sofrimento ao país.
Brasil
O Arquivo Nacional ignorou, mas o Arquivo Público do Estado de São Paulo aproveitou o aniversário do Golpe de 1964 para difundir o quanto pôde de seu acervo. No Twitter da instituição, foram pelo menos cinco postagens sobre o tema.
A propósito, um documento inédito encontrado pelo The Intercept nos arquivos do Ministério do Exterior da Itália mostra que o número de presos nos primeiros dias do Golpe de 1964 pode ser quatro vezes maior que o estimado até hoje.
Segue a quarentena e, com ela, a lista que cursos gratuitos e on-line, que só aumenta. Na semana passada a Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação da FESPSP liberou inscrições para 21 cursos.
A revista Informação & Informação lançou sua mais nova edição. O número 1 do 25º volume do periódico inclui, claro, artigos de Arquivologia.
Quem também está de número novo na praça é Logeion: Filosofia da Informação.
E saiu mais um número do Sebastião, boletim editado pelo Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.
Cada vez com maior intensidade, estudantes de universidades que decidiram adotar o ensino à distância durante o período de confinamento mobilizam-se contra a medida. Nesta semana, o Centro Acadêmico de Arquivologia da Unesp, em São Paulo, assinou um manifesto conjunto sobre o tema. No documento, os estudantes pedem que o calendário seja integralmente suspenso.
No próximo dia 13, o Museu da Imigração de São Paulo promove a palestra on-line "Pesquisando documentos de família", com o historiador Henrique Trindade.
Uma grande notícia em tempos de pandemia: saiu nesta semana o livro Arquivologia: temas centrais em uma abordagem introdutória, organizado por Anna Carla Almeida Mariz e Thayron Rodrigues Rangel. A ideia é tratar de temas complexos por um viés introdutório, ideal para estudantes em nível iniciante. A publicação, por enquanto, só está disponível no formato e-book, à venda na Editora da Fundação Getúlio Vargas.
Mundo
Morreu Emília Curras, documentalista, professora universitária e uma das fundadoras da Sociedad Española de Documentación e Información Científica (SEDIC). Curras, uma das principais responsáveis pela consolidação da Documentação na Espanha, morreu em decorrência da COVID-19.
O Conselho Internacional de Arquivos (ICA) criou um mapa interativo para reunir exposições, eventos e arquivos disponíveis on-line. A ação faz parte dos esforços do ICA para incentivar a quarentena.
A Associação Latino-americana de Arquivos (ALA) disponibilizou toda a bibliografia de seu curso de valoração documental. Imperdível!
O Centro de Estudios Históricos e Información Parque de España lançou o concurso "Subsídios para proyectos de preservación documental 2020".
O Grupo de Archiveros Municipales de Madrid está usando seu perfil no Twitter para responder perguntas a respeito dos arquivos e da Arquivologia. A ação se chama Pregunta a tu archivero.
Para ler com calma em tempos de quarentena
A nota da UNESCO, sobre a importância de converter a ameaça da COVID-19 em oportunidade para preservar o patrimônio documental mundial.
Uma entrevista da Associação dos Arquivistas do Estado do Rio Grande do Sul (AARS) com Pablo Soledade, sobre o novo decreto que prevê o descarte de documentos originais após digitalização (disponível também em áudio).
Para os amantes do gênero, os arquivos do rock (via Culto).
"Em um cenário como o atual, os arquivos mostram todas as suas potencialidades" – uma entrevista com Carlos Zapata (via Archivoz).
Para ver com calma durante o isolamento
De 2018, mas atual: a transmissão do seminário Documentos públicos na Era Digital.
E um GIF fascinante com a mensagem do momento: Stay Home (fique em casa, em inglês).
É leitor do Giro, mas ainda não assinou? ASSINE