Edição 37 ● Julho de 2019
Na Guatemala, angústia e apreensão pelo destino do Archivo Histórico de la Policia Nacional
Em 5 de julho de 2005, uma denúncia sobre explosivos indevidamente armazenados em um antigo paiol no centro da capital da Guatemala fez com que um grupo de funcionários ligados à Procuradoria dos Direitos Humanos daquele país descobrisse 80 milhões de páginas produzidas pela Policia Nacional, principal órgão de repressão do terrorismo de Estado que assolou a população guatemalteca entre as décadas de 1960 e 1990. A Policia Nacional espionou, perseguiu e assassinou milhares de pessoas ao longo dos sucessivos governos militares que assolaram o país. A descoberta de seu arquivo, entretanto, abriu uma porta até então desconhecida para o esclarecimento dos crimes de lesa-humanidade cometidos.
Através da cooperação com organismos internacionais, a documentação foi transferida para um local menos insalubre e organizada em torno do Archivo Histórico de la Policia Nacional (AHPN). Desde então, o arquivo permaneceu sob a custódia do Ministério da Educação da Guatemala. O convênio que garantia essa guarda, no entanto, expirou recentemente, o que levou o Ministério de Governo – que tem interesse em ocultar os crimes cometidos no país – a requerer a custódia dos documentos.
Diversas organizações têm se pronunciado com apreensão sobre o perigo evidente de que a documentação do AHPN se perca ou seu acesso seja restrito. Em novembro de 2018, a Associação Latino Americana de Arquivos (ALA) se pronunciou sobre o tema. No final de junho, foi a vez do Conselho Internacional de Arquivos (ICA) manifestar sua preocupação. De acordo com o ICA, a Guatemala deve "encontrar uma solução a longo prazo para proteger os arquivos e permitir o acesso ininterrupto a eles".
Brasil
O Arquivo Público do Distrito Federal segue nas manchetes, nem sempre pelos melhores motivos. Na semana passada, a chefe de gabinete da instituição, Andréia Schmidt Brito, que é esposa do senador Marcos Rogério (DEM-RO), se ausentou do trabalho sem licença ou oficialização de exoneração. Andréia foi para Portugal fazer mestrado, mas seguiu vinculada do Governo, recebendo salário de R$ 5.855,22. Quando a imprensa publicou o caso, a chefe de gabinete pediu exoneração.
O engenheiro Antonio Abrantes e a arquivista Paula Cotrim lançaram na semana passada o aplicativo para smartphone TTD Meio. A iniciativa, de acordo com os desenvolvedores, "possibilita uma navegação pela classificação documental, possui um índice de assunto que conecta à classificação desejada e recursos de busca direto pelo código". O app foi feito a partir da Tabela de Temporalidade e Destinação de Documentos da Atividade Meio da Administação Pública. É grátis, sem anúncios e levíssimo (apenas 4MB). Está disponível no Google Play.
A Prefeitura de Bauru, em São Paulo, perdeu o acesso a parte de seus arquivos eletrônicos. De acordo com o Executivo Municipal, nenhum documento foi perdido, mas a cidade não dispõe de tecnologia para acessá-los. A contratação de uma empresa terceirizada, de acordo com a Prefeitura, deve resolver o problema.
Já estão abertas as inscrições para o X Seminário Memória, Documentação e Pesquisa, que acontece em setembro, no Rio de Janeiro. O tema desta ano é "O legado da UFRJ em cem anos de história".
Mundo
Um incêndio atingiu o Arquivo Russo de Literatura e Arte, em Moscou, na semana passada. De acordo com informações do governo russo, ninguém se feriu e os documentos de maior valor não foram atingidos.
Em vídeo, o incrível roubo de um documento assinado pelo General San Martín, prócer da independência Argentina.
Enquanto isso, no Peru, o Archivo de la Nación perdeu documentos de Miguel Grau, além de outros documentos do período colonial.
60 mil livros resgatados do prédio da AMIA, que foi destruído por um atentado terrorista em Buenos Aires, em 1994, já podem ser novamente consultados. Os documentos foram tratados, reorganizados e digitalizados.
As chuvas torrenciais que atingiram Washington, na semana passada, chegaram a causar danos ao Arquivo Nacional dos Estados Unidos. O principal alimentador de energia do prédio do AN foi inundado, mas nenhum documento foi danificado.
Uma thread (fio) no Twitter questiona o governo espanhol sobre a legalidade da custódia de arquivos por parte da Fundación Felipe González. De acordo com o questionamento, parte dos documentos divulgados provém das funções públicas desempenhadas por González e, portanto, não deveria estar sob custódia de uma instituição privada.
Um manual de voo e outros diversos documentos da Apolo 11 deverão ser leiloados nos Estados Unidos. Os vendedores esperam lances milionários pelos documentos, que completam 50 anos neste mês.
Para ler com calma
O Governo de Portugal lançou na semana passada o Guia de boas práticas para os arquivos das associações de Cultura, Recreio e Desporto. Gestão de documentos de uso corrente. Vale a leitura!
Com documentos inéditos do Arquivo Nacional, o site The Intercept revela como políticos traficavam armas e drogas com a conivência de militares durante a ditadura brasileira.
Uma fascinante reportagem sobre a Biblioteca Nacional da Espanha, dotada de um gigantismo assustador.
Para ver com calma
Um pequeno, mas interessantíssimo vídeo sobre o Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul.