Edição 63 ● Janeiro de 2020
Arqui... o que? Desinteresse dos jovens pela Arquivologia ainda é grande
Todo ano, as cenas se repetem. Nas redes sociais, jovens de todo o Brasil manifestam um duplo sentimento: de um lado, o sonho do ingresso no Ensino Superior acalenta e embala seus desejos; de outro, as notas nem sempre suficientes obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) levam seus anseios para mais longe. Nas últimas semanas, por exemplo, a busca pela hashtag "arquivologia", na rede social Twitter foi um bom atalho para chegar neste cenário. Lá, muitos jovens desanimados com seu score admitem a frustração do sonho de obter a formação almejada. E a possibilidade de trocar o sentimento vocacional pela oportunidade do desconhecido.
Não são poucos os jovens que elencam os cursos de Arquivologia como destino dos que não obtiveram boas notas no ENEM. Para muitos jovens, o ingresso no Ensino Superior é mais importante do que o encaminhamento vocacional desejado. Alguns creem, ainda, que os cursos de Arquivologia podem ser uma via mais fácil para chegar no verdadeiro curso desejado – geralmente mais concorrido.
Atualmente, a nota de corte média para o ingresso nos cursos de Arquivologia em todo o Brasil é de 627.16 pontos (números de 2019). A Universidade de Brasília (UnB) oferece o curso mais concorrido – 674.77 pontos. Já a graduação da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) é a menos disputada – são necessários apenas 567.53 pontos para o ingresso. De acordo com levantamento do portal Quero Bolsa, que acompanha em detalhes as estatísticas do ENEM, as notas médias de corte para os 15 cursos de Arquivologia que contam com ingresso via Sisu caíram cerca de 40 pontos em 2018 (em relação a 2017), mas em 2019, houve recuperação de parte desta queda.
Apesar de baixas, as notas de corte da Arquivologia não destoam tanto se comparadas com as de áreas afins. A nota de Biblioteconomia, que conta com dez cursos a mais que Arquivologia, teve média de 631.90 pontos. Museologia, que conta com apenas 11 cursos, registrou 623.70 pontos. Mesmo em cursos tradicionais, ofertados em centenas de universidades, não há tanta disparidade: um ingressante em História precisou de um score médio de 652.33 pontos para ingressar na universidade em 2019; já um aluno de Administração, necessitou de 655.11.
O desinteresse dos jovens pela Arquivologia e as baixas médias de ingresso podem estar por detrás de um problema grave nos cursos de todo o país, a evasão. Um trabalho defendido em 2016, pela acadêmica Amanda Alcebíades de Lima, entrevistou estudantes evadidos dos cursos de Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia da Universidade de Brasília e demonstrou que 45% dos entrevistados admitiu ter optado por um dos três cursos simplesmente pela possibilidade de estar no Ensino Superior. 63% dos entrevistados afirmaram ter desistido do curso escolhido por não terem se identificado com ele.
Aumentar o interesse dos jovens por uma área que carrega estigmas tão fortes, como é o caso da Arquivologia, demanda um esforço que não tem sido feito no Brasil. Associações profissionais, cursos de graduação e instituições arquivísticas, principalmente, deveriam se mobilizar mais para alcançar um número maior e mais significativo de pessoas interessadas na profissão. Quem sabe assim a Arquivologia deixe de ser esta estranha desconhecida que aparece nas redes em tempos de ENEM.
Brasil
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Mundo
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