Ano III ● Edição 103 ● Outubro de 2020
A Arquivologia brasileira foi e continuará sendo feita por homens e mulheres que se empenham, cada qual do seu jeito, para aprimorar e tornar ainda melhor uma área nem sempre visibilizada. Entretanto, estes personagens, muitos deles fundamentais, nem sempre são lembrados com a devida vênia – menos ainda em vida. Perdas recentes da área no Brasil mostram que é preciso olhar para trás e valorizar o trabalho árduo de nossos antepassados, de preferência enquanto eles ainda estão entre nós.
Um movimento ainda incipiente, mas muito interessante, parece estar concentrando suas atenções neste sentido, sobretudo através da coleta de depoimentos para a posteridade. E se tais iniciativas não fizerem nada mais (esperamos que o façam), ao menos já terão dado sua grande contribuição em colher o depoimento de Nilza Teixeira Soares, uma das figuras mais importantes da Arquivologia do Brasil. Nilza nasceu em 1926, no Rio, onde estudou em um curso técnico em administração. Em 1945, foi nomeada para trabalhar na biblioteca do centro de documentação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, depois de ter feito um concurso para o antigo DASP.
Foi através de um processo seletivo interno do próprio DASP que a jovem foi parar nos Estados Unidos, como bolsista do governo americano, entre 1952 e 1953. Lá, Nilza conheceu os modernos métodos da arquivística estadunidense. Uma década depois, outra vez como bolsista, ela conheceria de perto a arquivística europeia (principalmente a francesa). Quando foi para a Europa, Soares já era funcionária da Câmara dos Deputados.
Em 1972, Nilza assumiu a direção da Coordenação de Arquivos do Congresso, onde ficou até 1990. Durante estes muitos anos de trabalho, escreveu textos basilares para a Arquivologia, como um artigo em que chamou atenção – pela primeira vez no Brasil – para a existência de uma teoria das três idades arquivísticas. Em 1974, Nilza Teixeira Soares traduziu nada menos que Arquivos Modernos, obra basilar do também fundamental Theodore R. Schellenberg.
Toda a trajetória desta incrível profissional foi registrada em depoimentos recentes, publicados pela Câmara e pela revista Acervo. Faltava, no entanto, um vídeo. Não falta mais: na semana passada, aos 94 anos, Nilza Teixeira Soares participou de uma live promovida pela Associação dos Arquivistas de São Paulo. No dia seguinte, Jaime Antunes e Vanderlei Batista dos Santos participaram de outra live, homenageando-a.
Nada mais do que merecido para alguém que tanto contribuiu para que chegássemos até aqui.
Uma excelente novidade para nossos leitores. Em breve, as melhores notícias do Giro vão poder ser ouvidas no podcast ECCOA – Arquivologia fora da caixa. A parceria foi anunciada na semana passada em uma edição especial do programa que pode ser ouvida aqui.
Brasil
Hoje é Dia Mundial do Patrimônio Audiovisual e não há como falar na data sem lembrar que a Cinemateca Brasileira continua semi-abandonada pelo Governo Federal. Um grupo de filiados à International Federation of Film Archives gravou vídeos em apoio à instituição.
A propósito, o Arquivo Nacional promove, hoje, às 14h, um evento intitulado "Alvorada lá no morro: o audiovisual e a cidade".
Depois de dois anos de processo judicial, a historiadora Anita Prestes conseguiu evitar que 319 cartas de seus país fossem à leilão. Anita é filha do líder comunista Luis Carlos Prestes e da militante Olga Benário.
A Fundação Pedro Calmon, da Bahia, lançou mais uma edição de sua premiação que, neste ano, conta com uma categoria específica para incentivo à práticas de preservação e difusão em arquivos.
O Arquivo do Estado de São Paulo lançou, na última quinta, a campanha Arquivo nosso de cada dia, com dicas (em vídeo) de profissionais da área para ajudar cidadãos a cuidar de seus arquivos pessoais.
Acontece amanhã, promovido pela Fundação FHC, o evento Arquivo, fundo e coleção. Confira!
Mundo
A OEA aprovou uma nova versão da Lei Modelo Interamericana sobre Acesso à Informação Pública.
A Justiça de El Salvador ordenou que o presidente do país, Nayib Bukele, entregue os documentos desclassificados das Forças Armadas com informações sobre a chacina de quase mil camponeses, realizada por soldados, em 1991.
O portal argentino Chequeado lançou o Museo de la Desinformación, para nos lembrar que as fake news não são um fenômeno recente. Vale a pena conferir.
A UNESCO promove, hoje, a mesa "Patrimônio documental em perigo: lacunas políticas em matéria de preservação digital".
Para ler com calma
Lesbian Herstory: archivos revueltos (em espanhol, via Página12).
O novo número da revista espanhola DigiClic (via Digibis).
E o imperdível e-book com as comunicações do IV Simpósio Arquivos & Educação.
Para ver com calma
Os vídeos do 1er. Encuentro Iberoamericano en Gestión de Documentos, que aconteceu na semana passada.
E, das lives em comemoração ao Dia do Arquivista, alguns destaques: o encontro "Periódicos Científicos em Arquivologia", "Arquivologia e movimento associativo: histórico e perspectivas" e a palestra "Por uma história da gestão de documentos no Brasil".
Diretamente da Bahia, é hora de conferir o curta metragem Entre meios e fins: a trajetória da função da função da AABA.
E pra fechar: arquivistas de todo o Brasil soltaram a voz no happy hour arquivístico promovido pelo FNArq. Imperdível!