Edição 44 ● Setembro de 2019
Arquivos: como sobreviver em tempos de crise?
O arrocho orçamentário imposto aos países que ainda não conseguiram superar a última grande crise econômica do capitalismo internacional tem gerado uma política de constante desinvestimento, quando não de precarização das mais distintas instituições – da segurança à saúde públicas. Órgãos de cultura e mesmo de gestão não têm passado incólumes às políticas de austeridade. Recentemente, servidores do Arquivo Nacional do Brasil divulgaram notas e manifestos em que cobram das autoridades a retomada dos investimentos estatais no órgão. Um quadro similar atinge o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), há anos sem concursos para reposição de seus servidores.
Em meio a cortes e contingenciamentos, surgem interrogações das mais diversas: quanto custa (ou custará) o freio aos investimentos públicos na área arquivística? Quais são os setores a serem priorizados pela Arquivologia em períodos de austeridade? Quanto custam as crises para os arquivos e a política arquivística de um país? Qual é o custo//investimento em arquivos ostentado pelos chamados países desenvolvidos?
Todas estas questões seguem sem resposta, mas vem da Espanha um exemplo que pode servir de inspiração para que se encontrem caminhos para esclarecer as crescentes dúvidas que afligem a comunidade arquivística. Acaba de ser publicado pela Fesabid o estudo Las bibliotecas públicas en España: diagnóstico tras la crisis económica. O trabalho é organizado por Natália Arroyo-Vázquez, Hilário Hernánzez-Sánchez e José-Antonio Gómez-Hernández e apresenta um estudo detalhado da malha bibliotecária espanhola, apontando os impactos sofridos por esta mesma malha depois da crise econômica e da implementação de uma política de austeridade no país. Ainda que seja dirigido às bibliotecas, o informe merece ser lido com atenção, pois indica alguns caminhos através dos quais talvez seja possível recuperarmos o "império" da crítica sobre as decisões governamentais e seus efeitos sobre os arquivos.
Brasil
O incêndio de um pequeno edifício em frente ao Arquivo Público do Pará, em Belém, no último dia 03, causou preocupação nos moradores da região. Um dos apartamentos do prédio teve perda total, mas as chamas não chegaram a atingir o prédio do Arquivo. Ninguém se feriu.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais eliminou cerca de 800 mil processos judiciais só neste ano. Ao todo, foram descartadas 173 toneladas de papel. Tudo dentro das normas arquivísticas e com eliminação sócio-ambientalmente sustentável. Até 2020, 1,2 milhão de processos do TJMG devem ter o mesmo destino, gerando economia aos cofres públicos e renda para famílias de recicladores.
Guardadas no prédio onde funcionou a emissora, as quarenta mil fitas do arquivo da MTV (1990-2013) serão digitalizadas. O Grupo Abril pretende aproveitar o material, desdobrando-o em produtos específicos. Mas precisa de parceiros para o investimento. Os arquivos de TV são um dilema brasileiro. Parte importante dos registros de emissoras extintas, como Tupi e Manchete, até hoje não foram devidamente tratados e muita história já se perdeu.
A propósito... As notícias sobre a nova "gestão" da Cinemateca Brasileira não são as melhores. De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a nova direção agora tem como missão combater o "marxismo cultural" – que ninguém sabe ao certo o que é. Uma das primeiras medidas da nova gestão foi a organização de uma mostra de cinema com temática militar.
A International Society for Knowledge Organization do Brasil (ISKO-Brasil) lançou na semana passada o livro eletrônico com os trabalhos apresentados no V Congresso Brasileiro em Organização e Representação do Conhecimento, que aconteceu em Belém (Pará). O livro conta com bons trabalhos na área de Arquivologia.
Mundo
O México estuda a implementação de uma nova legislação eleitoral, capaz de lidar com o avanço das redes sociais sobre a publicidade política. Dentre as propostas debatidas, está a criação de um arquivo público de publicidade eleitoral, onde seriam reunidos todos os anúncios veiculados nas redes.
50 milhões de documentos sobre vítimas do nazismo são guardados nos arquivos de Arolsen, uma pequena comunidade no centro da Alemanha. A DW fez uma matéria especial sobre o arquivo.
Saíram os finalistas do SPA Film Festival 2019, o festival de produções audiovisuais promovido pela Seção de Associações Profissionais do Conselho Internacional de Arquivos. Produções de China, Catalunha, Escócia, Noruega, Itália, França, Espanha, Alemanha e Polônia concorrem em três categorias. Os filmes estão todos disponíveis online.
No Equador, mais um caso de roubo do patrimônio cultural arquivístico. Desta vez, foi o testamento de um importante cientista e advogado do país. O documento, datado de 1795, sumiu do Archivo Nacional.
O Fundo Internacional de Desenvolvimento de Arquivos (FIDA) está com inscrições abertas. A iniciativa é do Conselho Internacional de Arquivos e acolhe projetos que contribuam com o desenvolvimento dos arquivos pelo mundo. As inscrições vão até 30 de setembro de 2019.
Para ler com calma
Os sete erros básicos que as empresas seguem cometendo quando o assunto é digitalização.
Você sabe onde ficam guardados os documentos de Minas Gerais?
E uma reportagem sobre o novo livro de Giselle Beiguelman, que trata da política de esquecimento e da estética da memória.