Ano III ● Edção 137 ● Julho de 2021
A renomada historiadora Maria Teresa Bandeira de Mello foi exonerada da direção do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ) na segunda, dia 05 de julho, pelo governador Cláudio Castro. Bandeira de Mello atua há mais de 35 anos em instituições de acervo e, desde 2009, ocupou os cargos de assessora da direção e diretora do Departamento de Gestão e Acervo do APERJ, instituição que passou a dirigir em seu todo, a partir de 2015.
De acordo com Anselmo Gois, de O Globo, a diretora foi substituída pelo "cantor Alex Maia, sem experiência no ramo", num processo de "loteamento político" (troca de cargos por apoio político). O Giro investigou – sem sucesso – o currículo de Maia, mas sua nomeação ainda não parece ter ocorrido (e, se aconteceu, até o fechamento desta edição não localizamos o documento que a comprova).
O APERJ tem um acervo que remonta ao século XVIII, cerca de 4 mil metros lineares de documentos textuais, além de plantas, mapas, fotografias e filmes. O arquivo abriga fundos importantes para a história do Rio de Janeiro e do Brasil, como o conjunto de documentos da Comissão Estadual da Verdade do Rio. A demissão de Bandeira de Mello veio acompanhada de um reposicionamento da instituição, transferida para a Casa Civil do Estado.
O evidente uso político da exoneração abre dois vácuos importantes. O primeiro (e mais evidente) está no fato de que Bandeira de Mello sempre foi uma profissional reconhecida por seu conhecimento e experiência. Sua substituição por um profissional sem experiência na área é, portanto, ponto passível de preocupação.
O segundo ponto é a vacância provocada no CONARQ pela demissão da historiadora. Maria Teresa Bandeira de Mello se candidatou e foi escolhida para uma cadeira do Conselho Nacional de Arquivos graças ao seu notório saber na área. Sua demissão impede que ela continue no Conselho.
A Associação Nacional de História do Rio (ANPUH-Rio) repudiou a demissão de Bandeira de Mello e o Fórum Nacional de Ensino e Pesquisa em Arquivologia (FEPARQ) demonstrou "extrema preocupação" com o ocorrido. Até o fechamento desta edição, a Associação dos Arquivistas do Estado do Rio de Janeiro e o Fórum Nacional de Associações de Arquivologia ainda não haviam se manifestado a respeito.
Nesta semana, no ECCOA, Matheus Santos conversa com a arquivista Natasha Tolêdo Mota sobre a relação da User Experience com a Arquivologia. Ouça!
Brasil
O Arquivo Histórico de Petrópolis, no Rio, inaugurou um serviço de atendimento remoto. Por e-mail (não institucional). E por aplicativo de mensagens, via Whatsapp. As condições do acesso não foram divulgadas.
No Mato Grosso, o Arquivo Público do Estado lançou perfis "oficiais" no Instagram e no Facebook.
Roberto Dias, um dos nomes que figuram no mais recente escândalo que apura fraude na compra de vacinas no Brasil, mandou os documentos que provariam as denúncias para a Europa. As informações são de Veja.
Aliás, por falar em corrupção, teve até análise documental na CPI da COVID, semana passada. Quem captou o momento foi o professor José Maria Jardim.
Parlamentares visitaram a Fundação Palmares e constataram que parte do acervo da instituição sumiu. A situação é grave.
A Polícia Federal vai implementar um sistema de segurança para coletar, armazenar e reunir dados pessoais sensíveis de mais de 50 milhões de brasileiros. A ideia é "unificar os dados", tornando seu uso mais ágil.
Agenda: vai até o dia 16 o curso "Preservar audiovisual: história, princípios e práticas", ofertado pelo Instituto Iracema, do Ceará. Começa hoje, às 14h, o webinar Transparência e governo aberto, promovido pela FGV. E estão abertas as inscrições para a Oficina de introdução à Paleografia, que acontece a partir de 2 de agosto.
Mundo
A Agencia Federal de Inteligencia e a Secretaría de Derechos Humanos de la Nación, da Argentina, promoveram a semana passada a primeira reunião da Mesa conjunta sobre documentação de inteligência vinculada a violações aos direitos humanos. O objetivo da mesa é dar mais força ao processo de proteção dos arquivos históricos vinculados à proteção e sistematização dos direitos humanos no país.
Alejandra Salazar Ruiz assumiu o cargo de diretora do Archivo Historico Nacional do Equador. Ela é especialista em Gestão Documental e Arquivo.
Acontece via Zoom, hoje, às 18h, a "charla com café" Lo que no se nombra, no existe: la normalización descriptiva y la tarea de identificación en el Archivo Nacional de la Memoria, promovida pela Escuela de Política y Gobierno e pela AFPA, da Argentina.
E amanhã, às 18h (hora local da Catalunha), Ramón Alberch Fugueras apresenta a aula magna "Archivos y derechos humanos como ámbito de desarrollo profesional".
Para ler com calma
Tesouros e curiosidades do Arquivo Geral da Nação, que celebra seus 200 anos com casa nova (em espanhol, via La Nación).
Possível parceria entre a Biblioteca Nacional e o Google gera debate sobre preservação de acervos (via O Globo).
Um quarto do plano de ação da Infraestrutura Nacional de Dados está atrasado (via Open Knowledge Brasil).
Documento inédito de Jacob do Bandolim é uma das joias da música nacional guardadas em acervos virtuais; veja outras (via O Globo).
Para ver com calma
Archivos en Diálogo: accesibilidad, comunicación y acción cultural (via Canal Untref).
E a conferência "Horizonte de la Archivística Mexicana en el Marco del Siglo XXI" (via Poder Judicial Michoacán).