Edição 89 ● Julho de 2020
Na última quarta, 15, o Ministério Público Federal em São Paulo acionou a União por conta do abandono da Cinemateca Brasileira, instituição que abriga o maior arquivo fílmico da América do Sul. O MPF-SP questiona o Governo Federal sobre os motivos que levaram ao bloqueio dos repasses de aproximadamente R$ 12 milhões, previstos para o orçamento da Cinemateca neste ano.
A ação é mais um capítulo do dramático e injustificável ataque do Governo à Cinemateca. Gerida pela Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), a instituição passou a ser alvo de um interminável imbróglio desde que o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub decidiu romper o contrato entre as partes. O MEC era o órgão supervisor do contrato – que só acabaria em 2021 – e decidiu pelo rompimento de maneira unilateral.
Na semana passada, o novo secretário especial da Cultura, Mário Frias, deu um ultimato para que a Acerp entregue as chaves da Cinemateca. A Associação, no entanto, não acatou as ordens do secretário. A Acerp alega que a União contraiu uma dívida milionária ao não repassar os recursos previstos para o pagamento de seus funcionários e serviços prestados.
Anunciada como destino da ex-secretária de Cultura Regina Duarte, a Cinemateca está fechada e sob ameaça. Não há mais serviços de vigilância patrimonial, nem brigada de incêndio. O controle de pragas, a climatização e até a limpeza do local também foram suspensos por falta de pagamentos.
Ouvida pela reportagem do Brasil de Fato, Eloá Chouzal, pesquisadora do audiovisual brasileiro, declarou que o abandono da Cinemateca é desesperador: "É um absurdo, é desesperador. Eu conheço esse acervo, trabalho lá há mais de 30 anos como pesquisadora e pensar em um desastre em um acervo desse tipo é desesperador mesmo" – declarou.
Se a situação da Cinemateca paulista é ruim, ao menos no Rio o quadro é um pouco menos desolador. A Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro anunciou que ganhará nova sede para abrigar seu acervo.
Brasil
O tantas vezes debatido curso de formação técnica de arquivo será finalmente ofertado no Vestibulinho da Escola Técnica Estadual de São Paulo.
Por falar em São Paulo, a Prefeitura de São Caetano instituiu seu plano de classificação e tabela de temporalidade.
Um aplicativo chamado Remini promete recuperar fotos desfocadas, tremidas ou antigas. Os resultados anunciados são, no mínimo, surpreendentes.
Especialistas dizem que as regras para armazenamento da cadeia de custódia de mensagens de WhatsApp, previstas no projeto de lei de combate às fake news, podem ser ineficazes.
A Editora da UFMG lançou o e-book Arquivo Pandemia: Diários íntimos, recortes poéticos, históricos, geográficos, políticos, antropológicos, artísticos, psicossociais do isolamento, organizado por Vera Casa Nova e Andréa Casa Nova Maria.
E nas lives da semana, o ciclo promovido pelo curso de Arquivologia da FURG recebe amanhã, às 19h30, a profa. Ivana Parrela. Ao vivo, ela fala sobre patrimônio documental arquivístico e difusão. Imperdível!
Mundo
Um ataque hacker coordenado atingiu o Twitter, na semana passada. Milhões de seguidores foram atingidos a partir de uma falha de segurança. O ataque se espalhou até por perfis de famosos, como Barack Obama e Bill Gates.
A Associação Latino-americana de Arquivos (ALA) está organizando mais um curso, desta vez sobre gestão de documentos e arquivos. A formação será ministrada pela uruguaia Alejandra Villar, entre os dias 27 e 31 de julho. Custa 20 dólares para não-sócios da ALA.
Aliás, o Archivo General de la Nación, do Peru, também está com vagas abertas para seu Curso Básico de Archivos, que começa no dia 1º de agosto.
O Ministério de Cultura da Argentina está oferecendo 30 bolsas para o financiamento de propostas dedicadas ao trabalho com acervos e/ou coleções de instituições e museus nacionais. As vagas são abertas a profissionais de todos os países.
Por falar em Argentina, o governo federal de lá criou um sítio com a lista de todos os arquivos intermediários disponíveis para acesso.
Não é novidade, mas muita gente não conhece: o Center for Research Libraries, de Chicago, disponibiliza uma enorme quantidade de documentos digitalizados do e sobre o Brasil. Vale a visita.
Para ler com calma
Archivos digitales para historiadores: investigar en tiempos de pandemia (em espanhol, via História Ciências Saúde Manguinhos).
Archive(s), memóire, art. Éléments pour une archivistique critique (em francês, por Presses de l'Université Laval).
"Imágenes de lo que fuimos y lo que soñamos ser", sobre os arquivos fotográficos de jornais argentinos que quase foram perdidos (em espanhol, via La Nación).
Governo Federal é denunciado à CIDH por violações ao acesso à informação e transparência na crise da Covid-19 (via Article 19).
Resolução CNJ 324/2020: gestão documental e da memória do Judiciário (via Consultor Jurídico).
Para ver com calma
História e centros de memória. Uma entrevista com Ana Maria de Almeida Camargo (via TV Cultura).
O projeto de extensão "Construção de um modelo de base de dados na área de Arquivologia", com Katia Isabelli Melo (via UnB).
E a participação de Angélica Alves da Cunha Marques no ciclo Arquivologia em múltiplas perspectivas (via Curso de Arquivologia – FURG).
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