Ano V ● Edição 212 ● Janeiro de 2023
Depois de quase um mês de expectativa, o Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos anunciará hoje, 23, a historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto como nova diretora-geral do Arquivo Nacional. A ministra Esther Dweck confirmará, também, o novo status do AN, agora elevado à condição de secretaria da pasta.
Ana Flávia Magalhães Pinto é historiadora (com mestrado e doutorado na área) e jornalista, além de atuar como professora do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB) e de cursos de pós-graduação. De acordo com o currículo registrado na plataforma Lattes, a professora “desenvolve pesquisas articulando conhecimentos das áreas de História, Comunicação, Literatura e Educação”. A nova diretora será a primeira mulher negra a liderar a principal instituição arquivística brasileira.
O vasto currículo de Ana Flávia Magalhães Pinto e a importância de sua representatividade marcam uma explícita cisão do governo Lula com o perfil escolhido pelo governo anterior para dirigir o AN a partir de 2021 – o de um homem branco, desprovido de currículo e muito próximo aos círculos de poder. Por outro lado, a nomeação de Magalhães Pinto representa a manutenção de uma velha e aparentemente inquebrantável “tradição” brasileira: o AN segue sob a batuta de historiadores – e não de arquivistas.
Cabe lembrar que a ministra Esther Dweck prometeu integrar o Arquivo Nacional a um projeto maior de reforma do Estado brasileiro – garantindo à instituição seu papel de órgão de gestão. A escolha de uma profissional da área de História e que não tem experiência na condução de instituições arquivísticas representará um desafio a mais nesta jornada.
Ana Flávia Magalhães Pinto assume o Arquivo Nacional em um momento delicado para a instituição. Com uma equipe dividida e em constante conflito, caberá à nova diretora pacificar o AN desde dentro. A Associação dos Servidores do Arquivo Nacional (ASSAN) pede que a instituição seja “desbolsonarizada”, isto é, que os cargos de direção que foram distribuídos pelo último diretor, sejam entregues a outros trabalhadores. Ao mesmo tempo, pesam sobre o AN diversas polêmicas – na última semana, por exemplo, um servidor do órgão acusou o atual diretor-interino de perseguição política.
Além dos problemas internos, o AN também patina no que diz respeito ao seu papel enquanto instituição arquivística pública federal. Nos últimos anos, o órgão tem sido constantemente contestado a respeito de suas decisões no que tange à política de gestão de documentos da administração pública. Uma das muitas missões urgentes para a nova diretora.
Brasil
A comunidade arquivística brasileira (ou pelo menos parte dela) terá que refletir sobre o que aconteceu na escolha da direção-geral do AN. Desde outubro, diversas entidades do campo posicionaram-se a favor da escolha de alguém com formação e experiência na área, o que não aconteceu. Ao contrário da Museologia, que conseguiu emplacar um museólogo na direção do Museu Nacional, uma vez mais a Arquivologia ficou a ver navios.
Em 2022, o Arquivo Público do Estado de São Paulo ultrapassou a marca dos 12 mil pedidos de certidões de imigração. O número foi divulgado pelo Núcleo de Assistência ao Pesquisador do APESP.
A Prefeitura de Gurupi, no Tocantins, está implementando o Arquivo Público Municipal. Uma estrutura junto ao Centro Administrativo da Prefeitura está sendo montada para centralização os documentos. Só não se sabe se o Arquivo será, de fato, institucionalizado.
Por falar, nisso, a Prefeitura de Ilhabela, no litoral paulista, inaugurou uma nova sede para seu Arquivo Municipal.
Teresa Monteiro, biógrafa de Clarice Lispector, descobriu imagens raras da escritora no Arquivo Nacional. As imagens são de uma entrevista concedida por Lispector ao jornalista Arakem Távora, da extinta TVE.
Oportunidades: tem concurso aberto para arquivista da prefeitur de Carnaubeira da Penha (PE); e também para o Procon-DF.
Organizado, o Arquivista, tirinha do cartunista-arquivista Décio Vidal, agora é também desenho animado. Um desenho meio diferente. Confira.
Mundo
Virou uma novela (e das ruins) a descoberta de documentos públicos de posse do ex e do atual presidente dos EUA. Mais 6 documentos confidenciais foram encontrados na casa de Joe Biden, segundo a Justiça americana.
Também nos Estados Unidos, o insólito que exemplifica a importância dos arquivos. Um engenheiro de sistemas trocou os arquivos sobre decolagens e aterrisagens da Administração Federal de Aviação, fazendo com que milhares de voos atrasassem.
Ainda nos EUA, uma medida importante (e que demandará reflexões mundo afora): documentos oficiais do governo não poderão mais utilizar a famosa fonte Times New Roman. No lugar da consagrada tipografia, os documentos deverão utilizar a fonte Calibri. A medida visa promover maior acessibilidade aos documentos.
O Arquivo Municipal de Madero, no México, digitalizará mais de 25 mil exemplares de periódicos. Um trabalho e tanto!
O Archivo General de la Nación, da República Dominicana, anunciou os resultados de seus trabalhos em 2022. De acordo com o AGN, foram 38 livros publicados, 679 servidores capacitados e mais de 1,4 milhões de documentos digitalizados.
A Disney, gigante do entretenimento, está organizando a Disney100, uma exposição que promete “mergulhar” nos arquivos da empresa.
Para ler com calma
O curioso último e-mail que Steve Jobs enviou um ano antes de morrer (em espanhol, via el Economista).
Encontrou uma carta de sua primeira namorada, a publicou no Twitter e a resposta foi inesperada (em espanhol, via El País).
Marión Stokes: a ativista que gravou todas as notícias de TV por 33 anos para proteger a verdade (via Hypeness).
E não é bem para ler, mas… que tal conhecer o Arquivo Nacional em 3D?
Para ver com calma