Ano V ● Edição 210 ● Janeiro de 2023
Vitrais, telas, esculturas, mobiliário, edificações e, claro, documentos arquivísticos: nada escapou da sanha desenfreada dos terroristas que invadiram Brasília na tarde do último domingo, 08, produzindo algumas das mais lamentáveis cenas da vida republicana brasileira.
Com a conivência das forças de segurança do Distrito Federal, mais de 4 mil vândalos bolsonaristas avançaram enfurecidos sobre os palácios que abrigam as sedes do Supremo Tribunal Federal, do Congresso e da Presidência da República. No caminho, deixaram um rastro de destruição nunca visto. Uma tela de Di Cavalcanti, avaliada em 5 milhões de reais, foi atingida por sete punhaladas. Do belíssimo vitral “Araguaia”, de Marianne Peretti, só restaram estilhaços.
Gabinetes foram revirados, estantes e armários vandalizados e documentos espalharam-se pelo piso das edificações, misturados aos cacos e escombros gerados pela invasão. Entre as imagens mais impactantes dos atos, viralizou a de um terrorista empunhando um exemplar da Constituição de 1988. Por sorte, de acordo com o STF, tratava-se de uma réplica do documento original – que continua intacto no museu do tribunal.
O Ministro da Secom, Paulo Pimenta, disse ainda que os terroristas roubaram HDs com documentos dos gabinetes do Planalto.
Ainda no final do domingo, dezenas de entidades manifestaram-se contra as ações, assinaladas como tentativa de golpe de Estado. O Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro publicou uma nota intitulada “Em defesa do Estado Democrático de Direito”. No documento, a entidade manifesta que “nada justifica as atitudes de vandalismo às três instituições símbolos do Estado de Direito e da Democracia no Brasil”. Em outro trecho, o Fórum “exige que todos e todas que tenham participação direta ou indireta nesses ataques vis ao Estado Democrático de Direito e, por extensão, à segurança e ao bem-estar da população e às suas referências simbólicas, históricas e culturais sejam efetivamente identificados e punidos no rigor da lei”.
A nota do Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro foi subscrita, entre outras entidades, pela rede ARQUIFES e pelo Fórum Nacional das Associações de Arquivologia do Brasil (FNArq).
Brasil
O Arquivo Nacional continua sob direção interina. O Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos começou a divulgar sua composição, mas ainda não se sabe quem assumirá a direção-geral da principal instituição arquivística brasileira.
Enquanto isso, nos Estados há continuidades e também desagradáveis novidades. Recém-empossada no cargo, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, exonerou todos os funcionários do Arquivo Público do Estado, provocando o fechamento da instituição.
Como é praxe nestas ocasiões, já circula um abaixo-assinado que pede a reabertura do Arquivo Público pernambucano.
107 projetos candidataram-se ao Prêmio CNJ Memória do Poder Judiciário, que terá seus vencedores divulgados em maio. O prêmio conta com uma categoria especialmente dedicada ao Patrimônio Cultural Arquivístico.
Apresentada como “inovação”, a Secretaria da Cultura do Ceará está divulgando o que parece ser o início de um amplo processo de implementação de políticas arquivísticas no Estado. A ideia é adequar a administração estadual à Lei de Arquivos (que é, vale lembrar sempre, de 1991).
A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) protocolou um projeto de lei que propõe um piso salariam de R$ 7.272,00 para arquivistas (em jornadas de 40 horas). O texto ainda precisa passar por várias comissões da Câmara.
Oportunidades: a Prefeitura de Farroupilha (RS) e o Sine de Goiânia (GO) estão com vagas abertas para arquivistas.
Mundo
Paulo Dybala, um dos argentinos campões da Copa do Mundo, entregou a medalha recebida no torneio para o arquivo histórico da Roma, clube italiano do qual é jogador. Acontece…
O Arquivo Nacional dos Países Baixos disponibilizou um mapa que, aparentemente, mostra o lugar onde nazistas teriam enterrado um verdadeiro tesouro em joias, ouro e diamantes roubados. A caça ao tesouro vai começar.
O Ministério da Cultura e Esportes da Espanha adquiriu o arquivo do cineasta Luis García Berlanga. No total, foram pagos 357 mil euros.
Morto na semana passada, o papa Bento XVI deixou um testamento em que pede que todos os documentos do seu arquivo pessoal – sem exceção – sejam destruídos.
Para ler com calma
“El Juicio”, o documentário que faz “falar o arquivo” e convida a “manter vida a memória” (em espanhol, via Perfil).
“O Arquivo da Torre do Tombo foi o primeiro repositório de informação verdadeiramente global” – ume entrevista com o escritor Edward Wilson-Lee (via Diário de Notícias).
São suas lembranças, mas eles as guardam nas nuvens (em espanhol, via The New York Times).
Habilitações para casamento têm mais de meio milhão de imagens indexadas em 2022 (via Arquivo Público do Rio Grande do Sul).
Para ver com calma