Ano IV ● Edição 152 ● Novembro de 2021
A reunião do Conselho Nacional de Arquivos, ocorrida na quarta, 27, era para ser apenas mais uma das tantas que já aconteceram desde a retomada dos trabalhos do órgão. No final do encontro, entretanto, a diretora-geral do Arquivo Nacional, Neide de Sordi, pediu a palavra para comunicar sua saída do cargo. De Sordi, que também preside o CONARQ, assumiu o posto no início de 2019. E não inteirou três anos.
Os membros do CONARQ foram pegos de surpresa. Quase todos os que se manifestaram declararam preocupação com a saída da diretora e com os rumos das duas mais importantes instituições da Arquivologia brasileira. Não faltaram ainda elogios à atuação dinâmica da diretora ao longo de seu curto período à frente do AN e do CONARQ.
Neide de Sordi sai da direção do Arquivo Nacional em um momento aparentemente conturbado. Nas últimas semanas, o AN esteve nos holofotes da mídia, acusado de impor dificuldades à publicação de trabalhos sobre a última ditadura brasileira. Apesar das denúncias – desmentidas taxativamente e com bastante coerência pelo próprio Arquivo Nacional –, a demissão de Neide de Sordi não tem a ver com o caso – embora haja quem faça a relação: o Giro levantou informações a respeito da demissão e descobriu que na segunda, dia 25, o secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública avisou a diretora de que seu cargo seria ocupado por outra pessoa, para fins de "acomodação política".
Trocas na direção do AN com a finalidade de acomodar aliados do governante de ocasião não chegam a ser novidade. Entre 2015 e 2018, o órgão sofreu três mudanças na direção-geral, todas pelo mesmo motivo – e todas sem que o gestor escolhido tivesse perfil técnico para o cargo. O problema de agora, entretanto, é diferente: em que pesem as divergências – normais nestes casos – há certo consenso a respeito dos avanços técnicos obtidos pelo Arquivo Nacional e pelo Conselho Nacional de Arquivos durante a gestão de Neide de Sordi. Foram promovidos cursos e eventos com ótima receptividade, publicaram-se obras, impulsionou-se o SIAN, melhoraram os meios de difusão arquivística, organizou-se o mais completo planejamento estratégico dos últimos anos e, como principal conquista, empoderou-se o CONARQ – que chegou a ser extinto e hoje encadeia sua mais longeva e consecutiva sequência de reuniões. Ao comunicar sua saída, a própria Neide de Sordi passou em revista o trabalho realizado.
A exoneração da diretora, portanto, interrompe uma trajetória curta, mas relativamente exitosa para a instituição – em que pese o contexto geral. E, pior do que isso, abre espaço para a nomeação de alguém sem perfil técnico, sem experiência e sem relação com o trabalho realizado. Isso sem falar do nada infundado temor de que a direção seja tomada por algum agente de pendor autoritário e negacionista, como já aconteceu com instituições federais tais como a Fundação Palmares e o Iphan.
Nesta semana, o ECCOA – Arquivologia Fora da Caixa apresenta mais um episódio da Série Ilumière. No episódio, Cátia Selistre e Juliana Horta conversam com a historiadora e arquivista Helena Cancela Cattani sobre a série Os Aspones.
Brasil
O Conselho Nacional de Justiça publicou no último dia 20 a Resolução CNJ 429, que institui o Prêmio CNJ Memória do Poder Judiciário.
O Arquivo Público do Estado de São Paulo deu início ao curso "Avaliação Dinâmica da Massa Documental Acumulada (MDA)". A formação é desenvolvida pelo Núcleo de Formação e Treinamento do APESP.
Não chega a ser surpresa, mas, de acordo com O Globo, o Exército foi contra a Lei de Acesso à Informação, promulgada em 2011. O jornal obteve documentos que comprovam a ação do Comando da Força no contexto da época. Os registros, aliás, foram obtidos via LAI.
A partir de amanhã, 3, o Arquivo Nacional passa a agendar atendimentos presenciais. Desde março de 2020 o órgão não recebe pesquisadores em suas dependências.
O IBICT publicou sua Política de Preservação Digital. Um documento curto, mas importante.
O Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (ENANCIB) de 2022 ocorrerá em Porto Alegre. O anúncio foi feito no final da última edição, na semana passada.
Agenda: amanhã, às 19h, o DACAR Unirio promove a live "Expectativa X Realidade: a formação do arquivista e a atuação no mercado de trabalho". E no dia 25, a Rede de Arquivos de Mulheres (RAM) promove duas palestras e o lançamento de seu sítio, tudo para comemorar seu primeiro ano de trabalho.
Mundo
A maior parte dos estados mexicanos já harmonizou sua lei de arquivos com a Lei Geral do país. É o que mostra o "Mapa de armonización local com la Ley General de Archivos", publicado pelo Archivo General de la Nación.
Por falar em México, o Colegio Mexicano de Archivología está ofertando a oficina "Funções e responsabilidades do Coordenador de Arquivos".
E o governo da Espanha resolveu criar uma nova categoria para estabelecer sigilo sobre seus documentos. Alguns arquivos poderão permanecer por até 50 anos inacessíveis.
A Associación de Archiveros de Navarra promove entre os dias 4 e 11 de novembro o seminário Los archivos eletrónicos: una transición inacabada. Com uma bela programação, diga-se de passagem.
Para ler com calma
A demanda de armazenamento de arquivos e objetos é maior do que nunca (em espanhol, via Reseller).
Um grito pelo Arquivo Histórico Estadual, por Jales Naves (via A Redação).
Pesquisa revela troca de cartas em tupi entre indígenas do século 17 (via Jornal da USP).
Guardiões da memória: os arquivos mantidos nos acervos do Estado do Amazonas (via Imprensa Oficial).
O filme de Dziga Vertov que ficou perdido por 100 anos (via Nexo).
Para ver com calma
Processo de conservação de documentos no Arquivo Público (via Governo do Paraná).
Arquivo Itinerante do APEES é destaque na TV italiana (via Arquivo Público do Estado do Espírito Santo).
Lançamento da campanha Avaliação da Massa Documental Acumulada (via Arquivo Público do Estado de São Paulo).
E um imperdível episódio do Greg News sobre memória (via HBO Brasil)